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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

CONFISSÃO
(Andre Faria)

Quando eu era criança, meu pai me abominava, não enquanto filho ou pessoa...mas meu jeito "delicado" de ser, e eu, involuntariamente, quase que espontânea e automaticamente o afrontava sendo mais "delicado" ainda, sem saber que aquilo me afastava cada vez mais dele. Mas eu não o fazia por que não o amava, fazia por que ele não entendia o que eu era. Como pode um senhor criado na roça, que estudou até a quarta série, que viveu num mundo extremamente machista entender que seu penúltimo filho é gay?
Não tive um pai super herói... Quantas discussões na calada da noite ouvi meu pai ter com minha mãe por minha causa...quantas vezes pedia benção para minha mãe em alto e bom tom e não pedia para ele, sabendo que aquilo o magoava... Quantas vezes meu pai olhava meus desenhos e dizia que aquilo era coisa de "marica"... Quantas vezes ouvi do meu pai "toma jeito de homem menino!"... Quantas vezes chorei a noite por que ele não deixava ver programas especiais onde a dança e arte estivessem envolvidas, pois no conceito dele aquilo não era coisa de macho...E quantas vezes quis mostrar para ele que eu era normal como qualquer outra criança/adolescente, que eu era especial, que tinha um dom lindo de expressar em traços e cores tudo que eu via de lindo no mundo...enfim...a vida se incumbiu de afastar-nos cada vez mais e mais...até que em julho de 2007 meu paizinho morreu de câncer...não fui ao hospital vê-lo nem um dia e não fui ao seu velório...na hora em que soube do ocorrido, era como se o relógio voltasse os ponteiros e junto com eles viesse a tona tudo que vivi...meu pai era um estranho pra mim, era um ser que eu não tinha afeto, não tinha amor...não tive respeito...não tive atenção...Minha mãe sempre supriu tudo isso...
Hoje eu sei o que é amor, eu sei o que é respeito, sei o que é atenção...
Sempre tive inveja dos meus amigos que tinham seus pais preocupados, seus pais presentes nos eventos da escola, que tinham seus pais os levando na praça para tomar sorvete e passear...
Gostaria muito de tirar esse peso que carrego em meu coração, luto sempre contra isso, mesmo sabendo que acabou, que ele não esta mais vivo para eu poder pedir perdão pela minha falta de sensibilidade e compreensão...pela vergonha que tinha dele por ele ser caipira, por ele ser simples, por ele se contentar com o arroz e o feijão...muito embora, sempre se esquecendo de um afago...
Enfim...já que eu não tive nada disso, eu felicito quem tem...e desejo nesse mês de Agosto (o mês dos pais) que os filhos busquem em seus corações um pouco mais de compreensão, respeito e amor...a gente pode escolher nossos amigos, lugares que iremos e o que faremos...mas não podemos escolher os pais que temos...e se de alguma forma buscamos o respeito e aceitação dos demais que nos cercam, cabe a nós também prover isso dentro de nossos lares...para que um dia (como no meu caso) não seja tarde demais.

Aos pais que são os heróis de seus filhos e aos filhos que compreendem e respeitam seus pais..todo meu carinho e admiração!
Andre Faria 15/08/2011




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